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Um Encontro Espírita pode ser para Todos?
Leopoldo Daré (Ribeirão Preto/SP)
Até o século XIX, cultura estava relacionada ao conhecimento da elite social, e abrangia artes, literatura e filosofia. Do século XIX para o século XX surgiram novas definições que enfatizam o caráter de aprendizado e de compartilhamento social do conhecimento cultural, e traz uma forma particular de interpretar a realidade, dando sentido à vida humana. Desta forma, todo conhecimento compartilhado por um grupo de pessoas na sociedade é cultura, e por isso, Espiritismo é cultura para os membros de sua comunidade.
No entanto, como tornar um encontro espírita motivo de encontro social amplo e de interesse também para não-espíritas? Acreditando que estaria alcançando este objetivo, a Associação Caminhos para o Espiritismo buscou intensificar e a ampliar a divulgação de seus eventos (para maiores informações www.caminhosparaoespiritismo.org.br). Desejando tornar o Espiritismo objeto de debate na sociedade, organizou uma estrutura de divulgação superior a meta de trazer público para o encontro. Foram distribuídos fouders e cartazes em centros espíritas, farmácias, restaurantes, universidades, bibliotecas, hospitais, clubes do livro, panificadoras, docerias, repartições públicas e livrarias, nas cidades de Araraquara, Batatais, Barretos, Franca, Matão, Ribeirão Preto e São Carlos. Obteve espaços de divulgação na mídia espírita (revistas, jornais, blog, web-rádio e rádio comunitária) nos estados de São Paulo, Paraíba, Paraná e Santa Catarina. Na mídia não espírita foram divulgadas entrevistas e reportagens em jornais, rádio e canais de televisão de Ribeirão Preto e região. Foram enviadas postagens virtuais para mais de 211.000 e-mail de pessoas não conhecidamente espíritas. Destes, mais de 54.000 pessoas (26%) visualizaram o e-mail marqueting, e mais de 8.000 pessoas (4%) clicaram para acessar mais informações. A efetividade do e-marqueting foi superior a porcentagem de espíritas na população brasileira (próximo a 1%), o que indica interesse de não-espíritas pela mensagem espírita. Houve mais de 2.000 pedidos de exclusão de seus e-mails da lista de e-marqueting, indicando que a forte repulsa a mensagem espírita é considerável, mas não inviabiliza a estratégia de propaganda.
A associação buscou patrocinadores. Das 16 empresas que aceitaram patrocinar os dois primeiros fóruns Caminhos de 2009, apenas em uma empresa os proprietários não são espíritas. Entre as 16 empresas que não aceitaram patrocinar o evento, sejam os proprietários espíritas ou não, as justificativas foram iguais: dificuldades financeiras e/ou a empresa não vincula sua imagem com eventos religiosos. Isto demonstra o forte vínculo religioso do Espiritismo brasileiro e o conceito sectário que a Religião tem no Brasil. A proposta de tornar os eventos Caminhos uma opção cultural para a sociedade em geral, e não apenas um evento sectário da comunidade espírita, enfrenta obstáculos culturais enraizados na concepção brasileira de Espiritismo que precisarão ser superados com inovação e persistência.
Um encontro espírita culturalmente amplo aumentará a população envolvida, trará maior visibilidade na mídia e seus temas tornar-se-ão motivos de debates nos mais diferentes ambientes. Isto parece muito bom para todo espírita. Por outro lado, o encontro terá que ser um pouco “menos espírita” para ser um pouco “mais de todos”, trazendo para o seu interior pessoas não iniciadas na doutrina, com linguagem e preocupações diferentes. O conflito entre a forma de interpretar a realidade do espírita e do não espírita será a prova de que estaremos perante mundos culturais diferentes. A este compartilhar em igualdade de valor as idéias espíritas com as não espíritas, eu chamo de “Espiritismo Aberto”. Ainda mais, é preciso que a mensagem seja compreensiva e importante para o não espírita, exige que selecionemos novos temas, estranhando nossa própria cultura espírita. Estranhamento que o diálogo respeitoso com as pessoas diferentes exige.
Até aqui a Associação Caminhos apenas começou a aprender como divulgar seus eventos espíritas, esforçando-se para difundir as temáticas espíritas nos diferentes órgãos da imprensa. No entanto, começo a perceber que o caminho está sempre incompleto se não buscarmos o que chamei de “Espiritismo aberto”. Se a realização de eventos espíritas verdadeiramente abertos conseguirá, em adição, acolher todas as vertentes espíritas brasileiras para uma discussão construtiva e tolerante, é mais uma pergunta que precisará ser respondida.
(Mentes do Amanhã - Ano II - Edição V - Agosto/2009)
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